segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Lixo é coisa séria

Com a sanção da lei 12.305/2010, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Com isso, todos os municípios do Brasil têm até o próximo ano para fazerem seus Planos de Tratamento de Resíduos Sólidos. Na Baixada Santista, as cidades correm para se adaptarem, até o prazo. Enquanto isso, ações simples de reaproveitamento de materiais descartados fazem toda a diferença 


Acabou a brincadeira. Foi sancionada, em 2010, a lei 12.305, e instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil. Na teoria, os municípios têm até o próximo ano para mandarem ao Ministério do Meio Ambiente seus Planos para tratamento do lixo. Na prática, as cidades da Baixada Santista e do País se mobilizam para se adequarem. E cidadãos conscientes transformam o lixo em artigo de luxo.


Em pleno o século XXI, com toda a produção e o consumo, o lixo se torna um fator decisivo para a população humana. Na concepção do sociólogo e assessor técnico do Fórum da Cidadania de Santos, Célio Nori, “a problemática do lixo urbano, em seu ciclo de produção, coleta e destinação final, passa a ser um dos grandes desafios sócio-ambientais a serem enfrentados”.

Para ele, não se trata apenas de uma discussão técnica ou política, é preciso rever hábitos. A antiga historinha do reduzir, reutilizar e reciclar, agora ganha mais força. E, com a promulgação da lei, segundo o sociólogo, “todos devem estar preocupados. Não podemos deixar de consumir, em função disso, é preciso diminuir quantidade de lixo nos aterros, por questões ambientais, econômicas, porque quanto mais lixo, maior desperdício de riquezas, e até de espaço”.

Célio Nori
A lei estabelece, entre outros, o fortalecimento da coleta seletiva e o investimento em cooperativas de catadores. Na região, comenta Nori, há algumas iniciativas não consolidadas, mas em andamento. “Um grupo estuda criar uma rede litorânea para fortalecer a atuação dos catadores em trabalho. Participam do grupo Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Guarujá e Cubatão”.

Santos não participa desse grupo e é alvo de críticas por isso. Porém, a cidade tenta administrar sozinha seu problema. No município, explica o sociólogo, existem quatro iniciativas de grupos de catadores (duas antigas, uma de pacientes da Saúde mental e outra de pessoas que atuam na coleta no centro de Santos. E duas novas, uma que está sendo reativada e outra que está sendo idealizada pela Prefeitura).

Um das principais preocupações do município é com os resíduos da construção civil, já que, em decorrência do boom imobiliário, Santos é a cidade com maior índice de verticalização do País, o que significa muito lixo vindo desse setor. E a Secretaria de Meio Ambiente projeta um Plano para a destinação desse tipo de lixo.

Na opinião de Nori, os poderes públicos das cidades precisam apoiar essas iniciativas, capacitar cidadãos e evitar que apareçam o que ele chama de “catadores de smoking”, pessoas que queiram tirar proveito sobre o trabalho dos catadores.

Lixões – devem acabar até 2014. Este é mais um ponto da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Até lá, a ideia é usar a coleta seletiva para diminuir a quantidade de resíduos nesses lugares, até que deixem de existir. A logística reversa também deve ser pensada, comenta Nori.

Isso significa que os municípios precisam estudar maneiras de até mesmo o próprio consumidor saber onde depositar o lixo que produz para o reuso. “É uma responsabilidade compartilhada pelos produtores, comerciantes e consumidores, não pode simplesmente colocar o lixo na calçada”.

Este ano, o governo do Estado de São Paulo incitou criar uma usina de incineração em Cubatão, para queimar o lixo produzido que não pode ser reutilizado da região. Mas a ideia foi vetada pela administração da cidade.

Mas a incineração tem impactos ambientais e contra a saúde humana, já que a queima lança partículas tóxicas na atmosfera, diz Nori. Além disso, não elimina a necessidade de se obter novos recursos naturais. E pode prescindir, ainda, da coleta seletiva. O problema maior, salienta o sociólogo, é que os catadores da região acabariam perdendo seus empregos.

“Alguns países europeus adotam a incineração, queimam alguns produtos que não podem ser reaproveitados, mas é uma maneira predatória e não sustentável. A Alemanha, por exemplo, já determinou o fim dos incineradores, o problema é que vende sua tecnologia para países emergentes”, ironiza Nori.

Comitê de Gestão de Resíduos Sólidos – se formou em maio, depois que o Fórum da Cidadania de Santos, em parceria com outras instituições da cidade, realizou uma série de debates no 1º Encontro para Gestão de Resíduos Sólidos na Baixada Santista. No evento, participaram representantes dos governos federal, estadual e municipais, pesquisadores, organizações privadas e do terceiro setor e cidadãos para discutirem a problemática.

Esse Comitê tem se reunido mensalmente e está elaborando um documento, com base na Política Nacional para Resíduos Sólidos, que será enviado às Prefeituras e Câmaras Municipais da região. O objetivo é suscitar as discussões.

“Em reunião com a presidente da Condesb (Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista), a prefeita de Guarujá, Maria Antonieta de Brito, em outubro, solicitamos uma audiência pública com o Estado, para que explicite os planos aos resíduos sólidos da região. E organizaremos o 2º Encontro para a Gestão de Resíduos Sólidos, para o próximo ano, para que os municípios apresentem em que estágio estão com seus Planos”, contou Nori.

Lei 12.305 – de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dispõe seus princípios, objetivos, instrumentos, perigos, gestão política e responsabilidades. De acordo com a lei, todas as pessoas, tanto físicas quanto jurídicas tem parte, direta ou indiretamente, na geração e no gerenciamento dos resíduos sólidos. Para outras informações da lei, acessar o site do planalto


Lixo que vira luxo – Uma caixinha de leite condensado que vira caixinha de presente, é o coador de café usado que, seco, reveste potes descartados e banquinhos de madeira simples, são sacolinhas plásticas que viram lindos jogos americanos de mesa. Em Guarujá, o projeto Transformando lixo em luxo, da Prefeitura, mostra que o lixo é coisa séria mesmo.
Pedro de Menezes do Nascimento

O Transformando lixo em luxo começou em 2010, como explica o idealizador, Pedro de Menezes do Nascimento, coordenador cultural e tecnológico da Secretária de Educação de Guarujá. “É um projeto dentro do projeto maior Biblioteca Cidadã. Além de ser um espaço para leitura, oferecemos à população a possibilidade de fazer seus documentos e participar de oficinas e cursos como o do lixo”.

Atualmente, quatro funcionárias realizam os cursos e oficinas para as pessoas que vão até lá para aprenderem a reutilizar o lixo. E os estudantes da rede municipal de ensino participam do projeto, como maneira de conscientização:

“As crianças e adultos aprendem que destino diferente podem dar ao lixo. Os novos moradores do Conjunto Habitacional da Prainha, por exemplo, vieram fazer o curso, quando se mudaram para lá. É um projeto que pode ser aplicado em toda a escola”.
Banco feito com coador de café usado

E o trabalho já rende bons frutos. Uma senhora que era quase cega, conta Nascimento, precisava de dinheiro para comprar comida – “Veio aqui e não tinha nem material para aprender. Demos todos os materiais para ela aprender. Ela passou a fazer os objetos com o lixo e vender e, depois de um tempo, trouxe uma sacola que fez, para nós, em agradecimento”.

Regina Lucia Ferreira da Silva, 43 anos, participa do Transformando lixo em luxo e faz um trabalho belíssimo pintando telhas que encontra na rua. Para ela, a ação tem um papel fundamental: “Limpar o planeta!”

A Biblioteca Cidadã fica à Rua Ceará, s/ n, Vila Alice, em Vicente de Carvalho. Telefones 3341-7845 e 3386-6041.

Regina e sua arte em telhas



Curiosidades
4 bilhões de toneladas de lixo, são produzidas no mundo, por ano.
2,5% desse total no Brasil.
2% do lixo orgânico urbano produzido no Brasil passa pelo processo de compostagem.
65% do lixo orgânico urbano produzido na Índia passa pelo processo de compostagem.
13% do lixo seco é reciclado, no Brasil.
3% da população mundial gera 5,5% do lixo do planeta.
R$ 8 bilhões são perdidos anualmente devido ao sistema de coleta e reaproveitamento falhos, no Brasil.
90% do material que retorna para o consumo é devido aos catadores.
7 milhões de toneladas de lixo seco, por ano, seriam desperdiçadas se não fossem os catadores.

39% do lixo produzido no mundo vem da pecuária,
38% do lixo produzido no mundo vem da mineração,
19% do lixo produzido no mundo vem da agricultura (equipamentos mecânicos, embalagens de pesticidas etc),
4% do lixo produzido no mundo vem da indústria (maquinário obsoleto, óleos lubrificantes etc),
3% do lixo produzido no mundo são resíduos da construção civil,
2,5% do lixo produzido no mundo é de resíduos sólidos urbanos (limpeza pública, resíduos comerciais, sólidos domiciliares etc).

Fontes: Mauricio Waldman e Ipea

imagens: Vinícius Mauricio de google.com


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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Façam suas apostas!

No jogo do pré-Sal, das maiores às menores cartas que as cidades da região puserem à mesa, tudo será fundamental para o desenvolvimento local

No jogo do pré-Sal, as cidades da Baixada Santista têm suas cartas para por à mesa. Enquanto algumas apostam em cursos técnicos, outras têm cartas maiores na manga, com projetos grandes de aeroportos e até da criação de um Parque Tecnológico. E todo investimento em educação, infraestrutura e qualificação profissional só vêm para contribuir com o novo panorama político-econômico-social-ambiental em que a região se encontra.

Na concepção do secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ronaldo Mota, é no campo da energia que a Baixada Santista encontra um ambiente propício para explorar possibilidades e limites, podendo crescer e se tornar um centro estratégico.
Por outro lado, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Paulo Alexandre Barbosa considera que, nenhuma região vai se desenvolver mais que a Baixada Santista. Mas é preciso traçar um plano estratégico de investimento na qualificação e na educação, para ele, os maiores desafios.
E Santos tem a maior carta na manga. O às de copas do município é o investimento no Parque Tecnológico. O secretário de Desenvolvimento e Assuntos Estratégicos da Prefeitura, Márcio Lara, conta que, após os estudos, que se espera que aconteça até o final deste ano, o projeto será enviado ao governo do Estado. A partir daí, o Parque poderá ser credenciado junto ao Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (o credenciamento de Santos é provisório desde 2009).
De acordo com Barbosa, o Estado de São Paulo investirá mais de R$ 20 milhões para obras em Parques Tecnológicos. E Santos também pode receber incentivos pela Lei Paulista de Inovação Tecnológica.
O projeto visa otimizar o espaço urbano do Centro Histórico para receber empresas inovadoras. Além disso, essas organizações formarão parcerias com as universidades da região de forma a desenvolver pesquisas e criar bens com valores agregados.
A ênfase do Parque Tecnológico de Santos será nas vocações regionais, como porto, retroporto, energia e desenvolvimento urbano (ai entra turismo, por exemplo). Numa segunda etapa, a área continental receberia empresas maiores, aos moldes dos Parques tradicionais.

"Nenhuma região vai se desenvolver
mais que a Baixada Santista."
 Paulo Alexandre Barbosa

A Fundação Parque Tecnológico de Santos é a entidade gestora, que tem como função abraçar os blocos governamentais, universidades, empresas e o conselho técnico. E abrigará, principalmente, uma incubadora visando o desenvolvimento de novas empresas.
Essa Fundação passa por uma atualização em seu regimento interno, em que se é discutido, por exemplo, a incorporação de um conselho público. Enquanto o Parque não sai, a Fundação faz um diagnóstico dos pesquisadores e áreas de pesquisa na região e desenvolve um plano de marketing e atração de empresas.
A Universidade de São Paulo de olho nesse novo mercado na Baixada Santista passa a oferecer, a partir de 2012, o curso de Engenharia de Petróleo em Santos. Também o governo estadual deve construir a nova sede da Faculdade de Tecnologia (Fatec) e uma nova Escola Técnica Estadual na Zona Noroeste.
Parque Tecnológico – é um complexo de desenvolvimento econômico e tecnológico, para empresas inovadoras, explica um dos responsáveis pela criação de um dos maiores Parques do País (TecnoPUC) do País, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Jorge Luis Nicolas Audy.
Conhecedor dos maiores Parques Tecnológicos do mundo, Audy explica que, no Brasil, o desenvolvimento da Ciência ainda é descolado do desenvolvimento tecnológico. E o Parque Tecnológico ajuda na transferência da tecnologia de forma apoiar a Pesquisa e o Desenvolvimento. “Agora está na moda, todo mundo quer”.
O primeiro Parque e um dos mais famosos a ser construído é o do Vale do Silício, na Califórnia, onde empresas como a Microsoft se desenvolveram. Na segunda geração, as universidades ajudaram a alastrar o processo de construção de novos projetos do tipo, mas a delimitação do espaço ainda era evidente. “Há universidades na China, por exemplo, que mais de 95% da área total é destinada aos Parques Tecnológicos”, revela Audy.

 "Agora está na moda, todo mundo quer."

Então surge a terceira geração, em que o espaço da cidade é aproveitado para a construção de Parques, como acontece em Barcelona, na Espanha, na Coreia do Sul, na Malásia e como é o projeto do Parque Tecnológico de Santos.

Guarujá, Itanhaém e Praia Grande:
o time dos aeroportos

Ainda no jogo do pré-Sal, Guarujá, Itanhaém e Praia Grande aparecem com velhas, mas possíveis e importantes, cartas no baralho: a construção de aeroportos. No caso de Guarujá, a
Petrobras, principal interessada nas apostas, investe para que sejam feitos estudos ambientais na região onde deve ficar o aeroporto do município. O prazo para que essa carta seja efetivamente posta à mesa é o final deste ano.
Segundo o assessor estratégico da Prefeitura de Guarujá para o assunto, Dario de Medeiros Lima, o aeroporto civil da cidade deve atender tanto a demanda da Petrobras quanto da aviação regional (poderá receber, ao mesmo tempo, até quatro aeronaves de pequeno e médio porte (com capacidade de até 80 passageiros cada). O empreendimento ficará num espaço de 2,7 milhões de metros quadrados cedidos pela a Base Aérea para o sítio aeroportuário (o equivalente a aproximadamente 327 campos de futebol grandes, como o Maracanã).
Sobre a preocupação com as vias de acesso, já que, devido ao grande contingente de veículos que trafegam nas ruas e avenidas por conta do retroporto, poderia ocorrer uma saturação no trânsito local, o assessor estratégico afirma que será investido em melhorias nessas vias. Apesar de muita especulação, de acordo com Lima, ainda não há uma quantificação do investimento da Prefeitura de Guarujá no aeroporto, porque o projeto ainda é conceitual.
Paulo Alexandre Barbosa

Itanhaém - por sua vez, investe numa carta recorrente nesse jogo: melhorias para o seu aeroporto, que já é utilizado pela Petrobras para transportar funcionários até as plataformas de Merluza e Mexilhão.
A área do antigo aterro da cidade, que ficava próximo à área aeroviária, será recuperada. O lugar atrai aves, como urubus, que prejudicam a segurança dos voos. Também serão construídos três novos hangares, um deles pela empresa Petrobras Distribuidora, e investido no recapeamento da pista de voo e dos pátios.
O aeroporto da cidade conta com uma pista de pouso e decolagem com 1.350 metros por 30 metros de largura (superior a do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, por exemplo). E é capaz de suportar aviões do modelo Boeing 737 com capacidade para 100 pessoas.
O prefeito João Carlos Forssell afirma que o “aeroporto está evoluindo gradativamente” e tem algumas empresas já interessadas em operar voos comerciais.
Praia Grande – deve ter um aeroporto com vocação logística. Apesar de estar na manga desde 2007, a carta ainda não foi descartada. E, posta à mesa, o aeroporto deve ocupar uma área de 5 milhões de metros quadrados – quase o dobro do aeroporto de Guarujá, abrigando um condomínio industrial, com empresas dos segmentos de tecnologia, construção civil, metalurgia, entre outros. Entretanto, o projeto ainda se encontra em estudos ambientais.

"Está evoluindo gradativamente."
Forssell, Prefeito de Itanhaém, sobre o Aeroporto da Cidade

A cidade também é uma Zona de Processamento Secundário (ZPS), nos ditames do Cespeg (Comissão Especial de Petróleo e Gás Natural do Estado de São Paulo). Isso significa que pelo município passam instalações de gasodutos. Outra possível carta na manga para investimentos.

Cubatão, Mongaguá, Peruíbe,
São Vicente e Bertioga:
cartas de infraestrutura e de
qualificação profissional

Abre-se o jogo de Cubatão, Mongaguá, Peruíbe, São Vicente e Bertioga e se encontra: o investimento em infraestrutura, cada uma dentro de suas possibilidades. E a preocupação com os cursos de qualificação profissional.
Cubatão pretende investir, em 2011, R$ 87 milhões em programas de recuperação da estrutura viária, por exemplo, importantes na ligação entre a Baixada Santista e a capital do Estado.
O município também deve instalar, até o final do ano, em parceria com a empresa de siderurgia Usiminas, um centro de qualificação na área de petróleo e gás. O projeto contará com recursos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Enquanto que, em Mongaguá, o prefeito Paulo Wiazowski Filho criou, em 2010, um projeto para ampliar as áreas industriais da cidade para os balneários de Samas e Cavalo Marinho. A cidade também investe na construção de moradias e unidades de saúde.
Além disso, o município firmou parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e oferece cursos do Programa Regional de Operações Articuladas (PROA). E cursos de informática e manutenção de computadores, gratuitamente.
Peruíbe também aposta em parceiros com cartas na mão, como o Senai, de forma a qualificar a população para as demandas do pré-Sal. O município ainda deve ganhar uma sede para sua Etec, que ocupa, provisoriamente, o Centro de Convenções da cidade.

"Em decorrência do pré-Sal, 18 novas
empresas se instalaram no em São Vicente."

E a atração de novas indústrias é uma das preocupações de Peruíbe, que criou a “Sala do Empreendedor, para orientar e simplificar os procedimentos de registro e funcionamento de empresas no município. E trabalha para ter um Departamento de Indústria, Comércio e Serviços, nos mesmos moldes da “Sala do Empreendedor”, voltado para empresas já existentes.
E aprovou na Câmara dos Vereadores um projeto que possibilita que a administração promova ações de incentivo para a instalação de indústrias não poluentes. Segundo a prefeita Milena Bargieri existem cerca de dez empresas manifestando interesse em montarem suas bases na cidade.
São Vicente e Bertioga – tem uma sede da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que conta com cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de biologia marinha, gerenciamento costeiro e meio ambiente, onde deve ser investido na criação de cursos relacionados ao pré-Sal, segundo o secretário de Comércio, Industria e Negócios Portuários, Fernando Bispo.
Baixada Santista
Falando em cursos, outra carta de mesmo naipe que São Vicente investe é em cursos populares de inglês, para aproximadamente 50 alunos, onde se aprende o vocabulário logístico, devido à demanda do setor.
O secretário explica que, em decorrência do pré-Sal, 18 novas empresas se instalaram no em São Vicente, inclusive uma empresa de alta tecnologia. Também kits informativos estão sendo distribuídos para que novas empresas se estabeleçam na cidade.
Enquanto que Bertioga se preocupa com a urbanização e o meio ambiente, pois, segundo o prefeito, Mauro Orlandini, o pré-Sal deve ocasionar grandes ciclos migratórios e as áreas preservadas do município e do litoral devem aparecer nas discussões do desenvolvimento. A cidade conquistou o cartão VerdeAzul, por dois anos consecutivos, o que significa que está preocupada com matas ciliares, uso da água, saneamento básico etc.
Bertioga deve abrir licitação, em breve, diz Orlandini, para a duplicação da Anchieta que passa pela cidade. Enquanto isso, investe, custeando o transporte dos universitários bertioguenses que estudam em Mogi das Cruzes, Guarujá e Santos.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

pré-Sal

Precisa-se de pesquisadores. Urgente!
O Brasil tem 1.3 pesquisador para cada mil habitante, enquanto países desenvolvidos têm até 9. Frente à demanda imposta pelo pré-Sal, o investimento na Educação básica e em doutores para o desenvolvimento de pesquisas se faz imprescindível para o desenvolvimento do País


Com o novo panorama político-econômico-social-ambiental que se instala no Brasil, a descoberta do pré-Sal, a Baixada Santista, bem como o País, se vê num grande impasse: a falta de mão de obra especializada. No 7º Gás na Economia, Fórum de Ciência e Tecnologia, Pesquisa e Inovação, realizado em 20 de setembro, que este ano discutiu a criação do Parque Tecnológico de Santos, desde a programação até os convidados e suas falas pareciam chamar atenção para uma mensagem: Precisa-se, urgente, de pesquisadores.

Segundo o diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo, enquanto que no Brasil há 1.3 pesquisador para cada mil habitantes, na China, país com mais de um bilhão de habitantes, esse número é de 1.7 e nos países desenvolvidos chega a 9.

“Pesquisa se faz com doutores, não com gente bem intencionada. E isso não significa diminuir o tempo da formação dos nossos doutores, pelo contrário, precisamos que esse tempo de estudo aumente, porque o conhecimento é cada vez mais complexo. O que precisamos é diminuir o tempo para a inovação. A universidade necessita de uma mudança cultural rápida, mas empresas e governos também estão descompassadas nesse jogo do desenvolvimento”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e diretor da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Jorge Luis Nicolas Audy.

Gás na Economia debate falta de pesquisadores no Brasil

De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Paulo Alexandre Barbosa, o Estado detém 51% de toda a produção em Ciência e Tecnologia do Brasil. Mesmo assim, os pesquisadores ainda estão, em sua maior parte, na academia. Enquanto no Estados Unidos para cada três estudiosos pesquisando em empresas há um na universidade, no Brasil esses números invertem. E isso dificulta a transformação do conhecimento em bens com valores agregados.

Para Audy, o País precisa trabalhar para que esses pesquisadores reduzam o tempo da publicação de um artigo até a transformação desse artigo em algo com valor agregado para a sociedade. Ele explica que, no caso dos Parques Tecnológicos, são mais de 40 pesquisadores, das mais diferentes áreas, trabalhando em um único projeto de pesquisa.

E não basta investir só na Pós-graduação. A Educação básica brasileira ainda vive um grande retrocesso. Evidente pelos últimos resultados obtidos pelo País nas avaliações internacionais. Apesar de ter melhorado em relação às avaliações anteriores, o Brasil ainda ocupa uma das últimas colocações quando o assunto é Matemática e Ciências. “Essa dificuldade gera os gargalos na falta de mão de obra qualificada no País e a necessidade de importação de profissionais”, diz o representante da PUC-RS e da Anprotec.

Uma das soluções é a de destinar parte dos recursos obtidos com o pré-Sal para a Educação e a Ciência e Tecnologia, como defendem, por exemplo, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que pedem 10% dos royalties do petróleo para essas áreas.

Conectores – Uma das maneiras de promover a interação entre universidade-empresa é por intermédio das agências de fomento à pesquisa. Na concepção do diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), João Fernando Gomes de Oliveira, os conectores entre o setor acadêmico e as empresas são as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), como a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Essas instituições podem, explica Oliveira, até mesmo atuar como agentes de transformação da pesquisa em produto para aplicação nas empresas, e dar suporte antes e depois de o produto chegar ao mercado, apresentando as soluções mais adequadas, estudando o ciclo de vida dos produtos no ambiente etc.

Para o coordenador adjunto para Pesquisa em Inovação Tecnológica da Fapesp, Sérgio Queiróz, a interação entre universidade e empresa no País ainda é fraca. Essa ligação é fundamental para que a inovação aconteça.


 Paulo Alexandre Barbosa

Desafios - E a responsabilidade é grande. Segundo o gerente geral da Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bacia de Santos da Petrobras, José Luiz Marcusso, atualmente, são três plataformas atuantes, mas, até 2020, será feito um investimento em mais 30 plataformas. Só para o setor de petróleo e gás, o Brasil precisará de 200 mil engenheiros e tecnólogos. Para se ter uma ideia, nem todos os engenheiros formados e ainda na faculdade do País suprem a demanda.

“O País produz 2 milhões e 100 mil barris de petróleo por dia, o plano é chegar próximo a 5 milhões até 2020. Para isso, a Petrobras deve investir em grandes programas tecnológicos e em parcerias com universidades e empresas. E Santos tem como se consolidar como grande pólo tecnológico”.

Já o gerente de Relacionamento com a Comunidade de Ciência e Tecnologia da Petrobras, Luis Claudio Sousa Costa, explica que o investimento, ano passado, em universidades e centros de pesquisa foi de US$1,2 bilhão. “Uma das maiores agências de fomento à pesquisa do País”.

Apesar de ter sido descoberto em 2006, e a primeira molécula de gás ter chegado à Caraguatatuba apenas no dia 16 de setembro de 2011, o pré-Sal tomou a maior parte das atenções que antes eram voltadas para a Bacia de Campos (descoberta em 1974). “Os desafios são equivalentes aos de Campos, mas o diferencial é o histórico, que dá um conforto e os riscos tecnológicos são menores. Não vai ser tão aflitivo como foi”, afirma Costa.

Nos próximos cinco anos, segundo o gerente de relacionamento da Petrobras, deve ocorrer um “investimento agressivo” no pré-Sal de US$ 5 bilhões, sendo que 95% desse montante fica dentro do País. Mas os desafios são grandes para os pesquisadores, Costa enumera alguns: a expansão de limites (ele não acreditam que o petróleo e o gás vão desaparecer tão cedo, mesmo assim a empresa continua investindo em outras fontes de energia) e a logística.

Além disso, entre os desafios estão, ainda, a problemática da emissão e captura de gás carbônico à atmosfera, uma vez que o óleo do pré-Sal lança mais CO2 que o óleo de Campos. Também a perfuração, pois as rochas são muito duras, e investir na perfuração a laser (a atual é feita com diamante – o material mais “duro” encontrado na natureza). E melhorar o escoamento do óleo, que fica bastante “colado” à rocha.

Na opinião do superintendente de Planejamento e Pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Elias Ramos de Souza, o pré-Sal é uma oportunidade ímpar para o Brasil crescer, mas é preciso aproveitar e investir nos recursos humanos.
Para o geólogo e professor da Universidade Monte Serrat Juarez Fontana o grande desafio do pré-Sal é o que ele é um paradigma mundial - “Nós vamos ter que responder para o mundo o que o conhecimento do pré-Sal representa. Precisamos nos preocupar para que não ocorra o que aconteceu no Golfo do México”.

E os desafios ambientais também são motivo de preocupação do cientista político e social e professor da Universidade Católica de Santos, Ícaro Aranovich da Cunha. Para ele, se fazem necessários estudos permanentes de impactos ambientais, consultas e discussões entre os atores no processo de desenvolvimento.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cuidado!

Você pode estar comendo um
cação em perigo de extinção
Estudo de pesquisador do Instituto de Pesca de Santos revela que a comercialização desse tipo de peixe compreende, na realidade, diversas espécies diferentes de tubarões, todos identificados indiscriminadamente como cação
Vinícius Mauricio*

Imagine um prato de cação ao molho, fumegando de quente. Não é só gostoso, é também saudável, pois é rico em Ômega 3, gorduras importantes para o bom funcionamento do organismo. Mas o gosto não fica diferente ao se comer uma espécie em perigo de extinção. O cação, nome popular dado a alguns tubarões, vendido nos mercados e feiras pode ser um tipo proibido para pesca e comercialização. E o consumidor pouco pode fazer, já que a fiscalização ainda é crua no País. 

Estudando o DNA das espécies de tubarões do gênero Carcharinus, pescados na região Sudeste e Sul do Brasil, que desembarcaram em Santos, em três barcos atuneiros (pescam atum), entre 2009 e 2011, o biólogo marinho e mestrando pelo Instituto de Pesca de Santos, Rodrigo Rodrigues Domingues, chegou à conclusão que o cação vendido indiscriminadamente era, na realidade, seis espécies diferentes de animais, de dois gêneros distintos (ver boxe explicativo sobre espécies).
Sendo que um deles é protegido (ou deveria ser) por lei Federal, por estar em perigo de extinção, o tubarão toninha, ou Carcharhinus signatus. Foram, ao todo, 317 animais analisados. A análise se deu por intermédio do DNA, já que os animais apresentam características físicas muito semelhantes. 
Tubarão toninha, espécie protegida por lei
Acontece que as espécies apresentam características morfológicas (similaridades físicas) aparentes e quando desembarcam não dá para destinguir uma da outra. No mercado nacional, os maiores indivíduos são discriminados apenas como cação-baía (espécies do gênero Carcharhinus) e os menores, cação-machote. “Não há identificação por espécie para o consumidor saber”, relata o pesquisador.


“Os tubarões são altamente apreciados no mercado asiático. No oriente, as pessoas costumam comer as nadadeiras dos animais, pois acreditam ser um alimento afrodisíaco. No Brasil, a carne de cação é bastante consumida”, revela o pesquisador.

O que ocorre é que os pescadores de atum, quando vão para alto mar, também acabam capturando tubarões. Os pescadores fazem retiram as nadadeiras, a cabeça e as víceras, ficando só a carcaça, ou charuto, que é vendido como cação. Esses tubarões são cosmopolitas, podendo ser encontrados nas águas dos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico.
Charuto de cação
Domingues explica que analisar apenas a carcaça dos tubarões para definir de quais são as espécies é como se tivesse um crime para solucionar, em que três irmãos gêmeos são mortos e só são encontrados vestígios deles. O pesquisador precisa, através da análise do DNA retirada de cada um dos vestígios, identificar quem é quem dos irmãos. O método pode ser utilizado por pesquisadores do mundo todo.

Apesar de a pesquisa ainda não ter sido publicada, foi apresentada no último encontro da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (SBEEL), que estuda tubarões e raias, em agosto de 2011, no Rio Grande do Sul. A pesquisa também contou com a colaboração dos pesquisadores Alberto Ferreira Amorim, Alexandre Hilsdof e Mahmood Shivji.

Fiscalização - A gestão só se faz em nível de espécies, explica o pesquisador, por isso, é importante definir que espécies são. Mas, comenta ele, não há profissionais suficientes para monitorar o desembarque e, mais que isso, analisar as carcaças em laboratório exige investimento em pesquisa. “Apesar desse custo ter barateado, ainda é caro fazer isso”, afirma Domingues.
Quando consegue se definir as espécies e a fiscalização acontece, é possível aplicar medidas protecionistas e até autuar quem pesca e comercializa animais ameaçados. Além disso, o Código de Defesa do Consumidor prevê que seja discriminada a origem e a espécie do animal que está sendo comprado. A lei protege os consumidores, o meio ambiente e até mesmo os supermercados, já que não permite a venda de produtos de origem duvidosa ou ilegal.
“O consumidor pode exigir seu direito, ao comprar um cação, e, com isso, ajudar para que espécies não sejam dizimadas. Além disso, as organizações não-governamentais podem colaborar na fiscalização”, sugere o pesquisador.
O pesquisador Rodrigo Rodrigues Domingues

Foi como fez o Instituto de Justiça Ambiental (IJA), que enviou ofícios ao Walmart e Carrefour solicitando informações e esclarecimentos sobre a comercialização de filés de cações em dois estabelecimentos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O IJA moveu ação judicial contra as redes de supermercados, no estado, pela venda indiscriminada de espécies de tubarões.
Em segunda ação judicial, o IJA entrou com pedido liminar contra os supermercados, incluindo como réu a União e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E entrou com pedido de ação civil pública contra os supermercados, a Fundação Estadual de Pesquisa Ambiental (Fepam) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
Foi solicitada a imediata colocação de selos de identificação da espécie de cação nas embalagens, ou a retirada dos produtos até que fossem indicadas as espécies comercializadas. O IJA se baseia na Instrução Normativa nº 5 do Ministério do Meio Ambiente, a qual lista 17 espécies de cações e tubarões ameaçados de extinção. Esses animais ocupam o topo da cadeia alimentar marinha e estão seriamente ameaçados de desaparecer, no Brasil e no mundo.
Barco atuneiro
Procurado para esclarecer como acontece a fiscalização do cação na Baixada Santista, durante duas semanas em conversas por telefone e via internet, o Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, não quis se manifestar. A assessoria de imprensa alegou que precisava de autorização e a pessoa que a concedia não podia ser contatada, durante o período de conversação.
Tubarões – são peixes cartilaginosos, mais suscetíveis à extinção que os peixes ósseos. Enquanto os peixes ósseos, como a sardinha, chegam à maturidade rápida e produzem uma prole grande, já que liberam milhares de ovos na água. Os cartilaginosos costumam ter crescimento lento, com maturação tardia e têm uma prole razoavelmente pequena, se comparados aos ósseos (algumas espécies de cartilaginosos chegam a ter um filhote por ninhada). Entre as espécies encontradas no estudo do pesquisador do Instituto de Pesca estão o Carcharhinus falciformis (lombo preto), Carcharhinus signatus (tubarão toninha), Carcharhinus limbatus (galha preta), Carcharhinus plumbeus, Carcharhinus brachyurus e o Isurus paucus (anequim preto).



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

PL 1876/1999

As implicações do novo Código
Florestal na Baixada Santista
Das ocupações dos morros ao prejuízo das matas e florestas da
região, a revisão do Código Florestal pode legalizar e facilitar a tomada de
decisões sobre as áreas de preservação ambiental

Vinícius Mauricio*

Parece que o calor das discussões sobre a reforma do Código Florestal brasileiro não aquece em nada o cotidiano da Baixada Santista. Mas só deveria parecer. Na realidade, a alteração do Projeto de Lei (PL) 4.771, de 23 de janeiro de 1934, e de leis complementares, deve ser motivo de preocupação para os cidadãos e políticos da região. Isso porque, se aprovado, vai facilitar o desmatamento das Áreas de Preservação Permanente (APP), como florestas e matas ciliares, além da ocupação das encostas dos morros para moradia.

Segundo a consultora da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e professora do Mestrado em Direito da Universidade Católica de Santos, Maria Luiza Machado Granziera, o PL do Código Florestal é vago em relação às possíveis influências na Baixada Santista.

Ela comenta que, no novo Código, cria-se um Programa de Regularização Ambiental (PRA), que permite a consolidação do uso das APPs, sem nenhuma limitação expressa no texto. Para a consultora, tecnicamente, o projeto de lei é falho e confuso, o que, na opinião de Maria Luiza, beneficiará o desmatamento e não a proteção da biodiversidade local.

 “Entendo que esse processo deve ser suspenso e devidamente apresentado à sociedade brasileira, de forma objetiva e sem maniqueísmos. A negociação, prática da sociedade civilizada, perdeu lugar para uma guerra entre ruralistas e ambientalistas em que o grande perdedor é a sociedade brasileira e a democracia. O tema é importante para o País e poucas pessoas tiveram acesso à informação”, afirmou a consultora.

Para ela, a sociedade não foi chamada para a discussão. E a questão da anistia (anulação da punição para quem desmatou), de acordo com Maria Luiza, precisa ser repensada:

“É preciso decidir, por exemplo, em que termos se pretende dar anistia para quem desmatou. Afinal, quem ganha com a anistia? Parece-me que apenas quem desrespeita a lei. Essa sistemática é contrária à democracia. A anistia ao desmatador só privilegia a ilegalidade, não beneficia o desenvolvimento do País”, critica a consultora.

Meio urbano – Nas cidades da região, o PL deve favorecer a expansão habitacional nos morros. A engenheira agrônoma especialista em áreas de proteção ambiental Claudia Vera Bellem Soukup afirma que o Código em vigor é ótimo, mas mal gerido, pois não tem fiscalização.


No detalhe, pé do morro da Cachoeira, em Guarujá, sendo ocupado
 “Não deveria de haver mudança, é somente uma desculpa para a expansão agrícola e habitacional. Se aprovado, estarão legalizando o crime. As invasões a áreas de proteção e de risco, na Baixada Santista, só crescem. Há dificuldade em controlar e nossas florestas e morros estão à mercê”, justificou a engenheira.

Claudia comenta que, com o Novo Código, pode ficar mais fácil a ocupação, e os invasores passam a ter uma justificativa legal para tomarem os morros. “Nós corremos o risco de assistir a um péssimo espetáculo como aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro”.

E não precisa buscar maus exemplos muito longe, o professor da pós-graduação em Gestão Ambiental da Universidade Santa Cecília e secretário de Meio Ambiente de Guarujá, Elio Lopes, lembra da tragédia que ocorreu na cidade:

“Acredito que o novo Código não deva ser aprovado dessa forma, uma vez que a sociedade brasileira não foi ouvida. Pode acontecer o que ocorreu com a comunidade do morro da Glória, na década de 70. Devido à infiltração de água da chuva em excesso no solo do morro, houve deslizamento e as famílias foram obrigadas a saírem do local, na época. Até agora temos preocupação. Se aprovado, vamos ter que dar licença para essas pessoas ocuparem lugares como esses”, analisa Lopes.

A solução, para Claudia, é fazer projetos nos morros como o de desocupação da Serra do Mar, do governo Estadual. Enquanto que o professor de Gestão Ambiental pensa que precisam ocorrer manifestações civis e políticas na região contra a aprovação do Código. “Devemos nos unir, solicitar audiências públicas nas Câmaras, realizar conversas entre as autoridades políticas da região e tomar parte nas discussões”.

Meio Ambiente e Ciência – No centro das discussões, a temática ambiental joga mais brasa nas animosidades. Ambientalistas do Brasil e do mundo se manifestaram contra a reforma do Código Florestal brasileiro, nos ditames que foi escrito.

Para Lopes, diferente das leis dos homens, as leis da natureza não são corrompidas: “Em todas as perícias técnicas que fiz, a ganância é um dos meus componentes de análise que aparece em todos os laudos. Com a aprovação do Código, haverá um caos ambiental, com problemas que atingirão inclusive o próprio ser humano, o agressor deve ser agredido”.

Já a engenheira agrônoma revela, ainda, que a revisão do Código Florestal se agrava, caso choque com a revisão do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. Ela explica que as cidades da costa brasileira, inclusive as da Baixada Santista, estão discutindo com a sociedade civil um planejamento econômico-ecológico para apresentar, até o final do ano. Esse plano sistematiza os limites de expansão de cada cidade – “Nas discussões do Código, devemos favorecer a discussão do Gerenciamento, para que não haja desencontro de leis a serem cumpridas”.


Helena Nader, presidente da SBPC
Enquanto isso, ambientalistas e sociedade civil organizada se uniram por uma revisão “verde” do Código Florestal, com a criação do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, e os cientistas lançam suas cartas à mesa.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) se reuniram para apresentar pesquisas à Câmara Federal, quando da tramitação do PL na casa. Já no Senado, tanto o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), que apresentou a proposta de alteração de lei, quanto os representantes das entidades científicas brasileiras terão a oportunidade de apresentar suas opiniões aos congressistas.

Os cientistas devem expor dados referentes a estudos realizados, de forma a contribuir na revisão do Código. Esses estudos, em linhas gerais, favorecem o aumento da produtividade agropecuária em território já utilizado, a transformação de áreas degradadas pela atividade agrícola em reservas legais e a compensação àqueles que preservam os ecossistemas.

Intitulado de O Código Florestal e a Ciência – Contribuições para o Diálogo, o estudo apontou dados importantes, como os relacionados às APPs.

No Senado, a presidente da SBPC, Helena Nader, disse que a análise feita pelos cientistas foi realizada longe de vínculos com o agronegócio, com movimentos ambientalistas ou partidos políticos. Além disso, explicou Helena, a proposta final é resultado da contribuição de cientistas de diversas áreas e busca a harmonia entre crescimento econômico, preservação do meio ambiente e desenvolvimento humano.

Segundo outros estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, a aprovação do novo Código será um passo para trás na emissão de gases que agravam o efeito estufa. Indo na contramão das metas internacionais assinadas pelo Brasil, em Copenhague, em 2009, para a redução de emissões desses gases, estima uma quantidade aproximada de 18 a 25 bilhões de toneladas de gases seja lançada à atmosfera.

Código antigo X Novo Código – Quando foi aprovado, em 1934, o Código entrou em vigor em um ambiente diferente do que o Brasil se encontra atualmente. O Código de 1934 considera APPs, entre outros, as florestas, margens de cursos e massas de água, nascentes, mangues topos e encostas de morros com declive superior a 45 graus.

E prevê, em caso de retirada da vegetação, a necessidade de um licenciamento ambiental e a compensação da área desmatada. Também devem ser preservadas áreas de reservas legais, dentro de propriedades privadas, como fazendas, de forma a não interferir na vida de espécies animais e vegetais.

A revisão do Código, apresentada pelo deputado Aldo Rebelo, foi aprovada pelos deputados, em maio, com emendas (alterações) de última hora ao Projeto de Lei 1876/1999. O PL é o principal assunto a tramitar no Senado neste semestre, movimentando a casa, que parece querer conciliar as opiniões contrárias, colaborando no incentivo à ocupação sustentável das áreas em questão.
Site da Agência Senado sobre o Código Florestal

A ideia da bancada a favor do novo Código, a chamada bancada ruralista, é entregar a PL à presidenta da República para aprovação até o final deste ano. Porém, os cientistas e ambientalistas brasileiros travam um verdadeiro embate para que a revisão seja melhor pensada, com estudos e pesquisas de impactos econômicos e ambientais, já que a proposta ruralista favoreceria a expansão do agronegócio.

Entre as propostas do novo Código estão a de transferir da União para os Estados a competência de legislar sobre a permissão para atividades agropecuárias em áreas de preservação ambiental e a anistia dos produtores rurais que desmataram suas reservas obrigatórias.

Cidadania na rede - Enquanto a revisão do Código atual não sai, os brasileiros podem acompanhar as notícias e debates em torno do projeto, no site que a Agência Senado e os veículos de comunicação do Governo desenvolveram, com informações em áudio, vídeo e texto.  A página, hospedada no Portal do Senado, chama-se “Reforma do Código Florestal” e tem à disposição entrevistas, opiniões e infográficos que ajudam no entendimento do assunto: http://www12.senado.gov.br/codigoflorestal. Também o cidadão pode acessar o Projeto de Lei, no site da Câmara dos Deputados.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MASS

A arte católica de três séculos completa
30 anos em exposição, em Santos

O Museu de Arte Sacra de Santos, MASS, abriga uma das primeiras imagens de santo produzidas no Brasil, com autoria identificada. A imagem que já percorreu diversas exposições pelo mundo faz parte do acervo, junto com outros ícones, quadros e objetos dos monges que viveram no século 18, no morro do São Bento


Vinícius Mauricio*

Pequeno e grande notável ao pé do morro do São Bento, o Museu de Arte Sacra de Santos (MASS) fica ofuscado pela urbanização da região em torno e pela localização, frente a uma avenida de trânsito rápido. O espaço também não faz parte dos roteiros turísticos e tem poucas visitações em relação a outros pontos culturais da Cidade. Mas, prestes a completar 30 anos de inauguração, o antigo mosteiro que abriga o Museu reserva riquíssimo patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural, com exposição permanente de arte católica dos séculos 16 ao 18.

O Museu recebe cerca de 500 visitas por mês, segundo a responsável em História do MASS, Fabiana Mendes. Número que fica bastante longe dos que frequentam outros equipamentos culturais em Santos, como o Museu do Café e o Aquário Municipal, um dos lugares mais visitados no Estado de São Paulo, que chega a receber 500 mil pessoas por ano.
Museu de Arte Sacra de Santos - MASS

O Museu deve fazer um trabalho para aumentar as visitações, no final de 2011, em comemoração aos 30 anos da inauguração. Segundo uma das responsáveis pela administração do MASS, Marcela Rezek, haverá uma exposição que durará o ano que vem todo, iniciando com uma missa de ação de graças realizada pelo bispo de Santos, dom Jacyr Francisco Braido. “Também estamos desenvolvendo o projeto de um site, ainda sem data prevista para ser lançado”.

Apesar de ficar logo no começo do morro, Fabiana acredita que precisar subir um trecho (não mais que 300 metros) inibe as pessoas. Além disso, ela explica que o MASS ainda não está no roteiro dos passeios de bondinho e de ônibus turístico, o que deve mudar no segundo semestre, já que pretendem torná-lo um dos destinos do ônibus. “Estamos finalizando a construção de uma escada para ajudar na subida”.

Nova escada que deve facilitar o acesso ao MASS
Fabiana conta que a maior parte dos visitantes do Museu, curiosamente, é de turistas vindos, principalmente, de São Paulo, e pessoas da própria comunidade do morro do São Bento, onde são desenvolvidas atividades educativas e de conscientização. Os moradores participam do Dia de Monge, brincando de caça ao tesouro, teatro e, aprendem, ludicamente, sobre a história do lugar.

Também há o Cinema no Museu, uma vez por mês, e o Seu Bartô, projeto de fantoches que conta a história da transição do mosteiro para Museu, voltado ao público infantil. Os três projetos juntos trazem ao MASS até 50 pessoas da comunidade ao Museu, mensalmente.

Mas a história contada às crianças, com fantoches, é uma das mais curiosas que existem. Por que o prédio do MASS não foi concebido para ser um museu. Era, na realidade, um mosteiro de monges beneditinos alemães, vindos de São Paulo. De acordo com Fabiana, o território onde está o morro, em 1650, foi doado aos religiosos pela família de Bartolomeu Fernandes Mourão, ferreiro da armada de Martim Afonso, fundador da Vila de São Vicente.
Fabiana Mendes, profissional de história do MASS

A também responsável em História no MASS, Ana Paula dos Santos Franco, explica que, quando os monges chegaram ao morro, só havia uma ermida (capela pequena), que foi ampliada, tornando-se, posteriormente, capela de Nossa Senhora do Desterro. Só depois foi construído o mosteiro, ao lado. De acordo com ela, pouco tempo atrás, os historiadores acreditavam que a construção foi erguida estrategicamente, por causa dos possíveis saques de corsários (piratas) e para ser um ponto de espionagem para a Coroa portuguesa.


Apesar de os monges beneditinos passarem parte do tempo que lhes sobrava durante o dia no mosteiro lendo, escrevendo e traduzindo textos, há poucos documentos que revelam fatos desse cotidiano no local. Ana Paula diz que existem registros de Visconde de Taunay e de Frei Gaspar da Madre de Deus.

Fabiana detalha que o morro do São Bento teve três fases de ocupação. Na primeira, veio Bartolomeu Fernandes Mourão com sua família, na segunda, vieram outros portugueses, principalmente, da ilha da Madeira, que ocuparam o morro e deixaram descendentes, até hoje moradores da parte mais alta do lugar. Depois, continua explicando, a terceira foi a partir dos anos 70, quando começaram a chegar os nordestinos, que rapidamente ocuparam o morro.

Os não mais que dez monges habitantes do então mosteiro, por volta de 1725, realmente tinham pouco tempo para o ócio. Ana Paula revela que, depois do almoço, eles ocupavam um pátio central ao ar livre, o claustro, onde liam a bíblia e conversavam. Neste espaço, também tinha um viveiro de pássaros que ajudava na distração.


Capela de Nossa Senhora do Desterro

Mas o tempo era rigorosamente cronometrado pela liturgia das horas: “Faziam uma reunião pela manhã, para delegar tarefas ao longo do dia, e passavam o dia rezando, plantando algumas leguminosas, tubérculos e hortaliças, cuidavam de alguns animais, como galinhas, e, descobri fazendo uma pesquisa, que produziam sabão”, conta ela.

Inclusive de madrugada, os monges tinham que levantar para fazer orações. E, logo pela manhã, conta Ana Paula, às 6 horas, tocavam o sino chamando a comunidade para a primeira missa do dia. O claustro tem, ao seu entorno, o antigo refeitório, onde, atualmente, é o salão principal de exposições do Museu; a sala de exposições temporárias e a recepção; os antigos dormitórios e a capela.

A capela é pequena e aconchegante, já passou por reformas no piso, no teto e algumas reestruturações e restaurações, inclusive na pintura. A mudança mais significativa, conta Ana Paula, foi a elevação do pé direito (altura do chão ao teto), para a colocação da atual retábulo, única parte que destoa do resto da arte da capela.

Em estilo colonial paulista, um barroco tardio, explica Fabiana, se caracteriza pelas paredes muito grossas, feitas da mistura de caldo de conchas, pedras e óleo de bananeira. Além disso, há poucos vãos, como janelas. “Acreditava-se que o fato das paredes serem grossas fazia do lugar um ponto estratégico de defesa da Coroa. Mas é porque são feitas para suportar toda a estrutura da construção”.

Detalhe de arte da Capela de Nossa Senhora do Desterro


Mistérios do mosteiro - As responsáveis pela história do MASS afirmam que é possível encontrar alguma coisa escondida no prédio, como objetos que os próprios monges possam ter escondido, mas que, mesmo com todas as reformas, nada foi encontrado. Já foram tirados os assoalhos, destruídas paredes falsas, escavadas outras, e nada se achou.

“Agora estamos desenvolvendo o projeto da horta comunitária, no jardim, cavando a terra para plantarmos algumas verduras e legumes, e, por enquanto, não encontramos nada, nem por falta de vontade, nem de oportunidades”, afirmou Fabiana.

Mas o MASS já foi um lugar que abrigou um mistério que fervilhou a Cidade. No século 19, conta Ana Paula, o pintor Benedito Calixto questionou, em artigos escritos para o jornal Cidade de Santos, onde estariam as lápides dos monges, como Frei Gaspar. Um abade que ficou responsável pelo mosteiro resolveu tirá-las de seus lugares originais e elas, então, sumiram.

Lápide de Frei Gaspar da Madre de Deus


A Cidade, comovida, questionou-se por meses onde estariam as lápides. Geralmente, os monges enterravam os religiosos e cidadãos mais importantes sob o solo da capela, enquanto que os corpos de outras pessoas eram postos ao redor do mosteiro, num território conhecido como campo santo.

Um cidadão, lendo o jornal, escreveu para Calixto, contando que morava ao pé do morro do São Bento e, ao fazer uma reforma em sua casa, encontrou objetos que guardou, por que pensou serem importantes. Quando leu um dos artigos no jornal pensou que as peças que guardara poderiam ser as lápides, o que se confirmou depois. Eram cerca de cinco, sendo uma delas a de Frei Gaspar. Então, as lápides retornaram à capela, onde estão até hoje, nas paredes do Museu.

Riqueza arqueológica - antes, os enterros eram feitos pela Igreja. Mas, depois da Proclamação da República, o Brasil se tornou um Estado laico (independente, politicamente, da Igreja Católica) e as covas, então, passaram a ocorrer em lugares específicos, como o centro da Cidade. Não só Santos, mas São Vicente, afirma Ana Paula, são lugares de rica arqueologia urbana, devido às ossadas encontradas quando de alguma escavação.

“O porto de Santos foi considerado o porto da morte por muito tempo. Depois, só no século 19, é que passou por reformas sanitárias, até do próprio porto, e com a implantação dos canais. Mas foi só no século 20 que surgiu o primeiro cemitério no Município”, contou Fabiana.


Visitante observa arquitetura da capela
 Segundo ela, os monges deixaram o mosteiro quando, na Segunda Guerra Mundial, o então presidente do Brasil, Getúlio Dornelles Vargas, decretou que todos os japoneses, alemães e italianos e seus descendentes deixassem a costa brasileira, alegando que poderiam ser espiões do Eixo (grupo que lutava contra os Aliados, do qual o Brasil fazia parte).

Os monges foram de Santos para Vinhedo, em São Paulo, onde construíram outro mosteiro, em funcionamento até hoje. Já o mosteiro do morro do São Bento foi doado à Diocese de Santos e se tornou, anos mais tarde, o Museu.

MASS - De acordo com Ana Paula, o Museu foi criado em 12 de dezembro de 1981, quando a Igreja Católica local, liderada pelo então bispo Dom David Picão, percebeu que o patrimônio religioso estava se perdendo. Com isto, foi criado o Museu de Arte Sacra, no antigo mosteiro do morro de São Bento.

O antigo refeitório do mosteiro é o maior salão do Museu. E abriga uma exposição de imagens de santos, em madeira ou terracota (barro cozido), feitas dos séculos 16 ao 18. Entre as imagens, as que mais chamam atenção por suas histórias e importância são a de Santa Catarina de Alexandria e de Nossa Senhora da Conceição, esta uma das primeiras, se não a primeira, imagens produzidas no Brasil com autoria conhecida.


Vista frontal do MASS

Segundo Ana Paula, a imagem de Nossa Senhora foi feita pelo santeiro João Gonçalo Fernandes, em 1560. E viajou para exposições em várias partes do mundo, sendo bastante conhecida. Teve também participação importante na exposição de arte sacra montada quando o papa João Paulo II veio ao Brasil. A imagem retrata uma santa ao estilo barroco europeu: rechonchuda, pele clara e rosada e roupas com movimento.

A professora de inglês Maristela Sanchez Bizarro trouxe sua mãe Clarisse Sanchez Bizarro para conhecer o Museu. Elas desembarcaram na rodoviária, vindas de São Paulo, e foram visitar o MASS. Curiosas e espantadas ouviram a história da imagem de Santa Catarina, contada por Ana Paula. Segundo ela, assim como a santa-mártir, a imagem tem uma história de luta.

Acredita-se que tenha vindo ao Brasil em 1540, trazida por um casal de portugueses colonizadores. Ficava, antes, no outeiro de Santa Catarina. Mas com a invasão do temido corsário francês Thomas Cavendish a Santos, a imagem foi lançada ao mar, ficando perdida por 72 anos. Escravos do colégio de jesuítas (próximo a onde hoje se localiza a Alfândega) estavam pescando e a encontraram, causando grande repercussão na Cidade. Quando o Museu foi fundado, a imagem passou a fazer parte do acervo.

“Estamos estudando e pesquisando, tentando descobrir, agora, porque a imagem é diferente das outras da época [a imagem é escura, sem expressões faciais da época, lembrando um ventríloquo]. Pelas características, ela não deve ser do período Renascentista, como se pensa, pode até ser da Idade Média”, revela Fabiana.

Na concepção da professora de inglês, em igrejas e exposições de arte sacra se aprende muito com a simbologia e com a história de cada santo. Sempre que ela visita algum lugar procura conhecer as igrejas mais antigas, como ela fez quando foi a Buenos Aires, na Argentina. Junto com sua mãe, acompanhando a monitoria de Ana Paula, as duas até riram de algumas histórias.

Ana Paula dos Santos Franco guia as visitantes no MASS
As visitantes, enquanto visitavam o restante do Museu, questionaram os relatos de Ana Paula, as duas percorreram ainda a sala da paixão, da procissão e a sala do capítulo. Esta última era onde os monges se reuniam duas vezes no dia, e que, atualmente, fica a cátedra de Dom Idílio José Soares, ex-bispo de Santos, junto ao seu báculo (cajado) e brasão, da época em que se celebrava a missa sentado. Têm as salas da confissão e a que retrata como eram os quartos dos monges: uma cama, uma mesa pequena com cadeira e um local para ajoelhar e rezar.

Além disso, há diversas pinturas, com destaque para a revisitação de Benedito Calixto à obra Santa Ceia, de Leonardo da Vinci. “Parece que as imagens aqui têm vida própria, pelas histórias que têm”, disse Maristela. Enquanto sua mãe observava cada detalhe: “Mesmo as imagens de crianças, como esta de Santa Maria no colo de Santana Mestra, têm feição de gente grande”.

Arte profana – dentro do Museu, onde o sacro (arte religiosa feita em louvor a Deus, na definição de Fabiana) vigora, existe a sala de arte profana. Isolada dos demais objetos, como antigos instrumentos utilizados nas missas e procissões, a sala abriga quadros de arte contemporânea. São telas modernistas a partir da década de 50, que retratam o cotidiano do trabalho no porto e outras pinturas. O Museu de Arte Sacra de Santos (Rua Santa Joana D'Arc, 795 – Morro do São Bento) funciona de terça-feira a domingo, das 11 às 17 horas. As visitas são monitoradas e os grupos devem agendar previamente pelo telefone 3219-1111. Os interessados também podem participar dos projetos do MASS. A entrada única custa R$ 5.




Veja o álbum completo de fotos em: Ilustrações in loco