quinta-feira, 6 de outubro de 2011

pré-Sal

Precisa-se de pesquisadores. Urgente!
O Brasil tem 1.3 pesquisador para cada mil habitante, enquanto países desenvolvidos têm até 9. Frente à demanda imposta pelo pré-Sal, o investimento na Educação básica e em doutores para o desenvolvimento de pesquisas se faz imprescindível para o desenvolvimento do País


Com o novo panorama político-econômico-social-ambiental que se instala no Brasil, a descoberta do pré-Sal, a Baixada Santista, bem como o País, se vê num grande impasse: a falta de mão de obra especializada. No 7º Gás na Economia, Fórum de Ciência e Tecnologia, Pesquisa e Inovação, realizado em 20 de setembro, que este ano discutiu a criação do Parque Tecnológico de Santos, desde a programação até os convidados e suas falas pareciam chamar atenção para uma mensagem: Precisa-se, urgente, de pesquisadores.

Segundo o diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Guilherme Sales Soares de Azevedo Melo, enquanto que no Brasil há 1.3 pesquisador para cada mil habitantes, na China, país com mais de um bilhão de habitantes, esse número é de 1.7 e nos países desenvolvidos chega a 9.

“Pesquisa se faz com doutores, não com gente bem intencionada. E isso não significa diminuir o tempo da formação dos nossos doutores, pelo contrário, precisamos que esse tempo de estudo aumente, porque o conhecimento é cada vez mais complexo. O que precisamos é diminuir o tempo para a inovação. A universidade necessita de uma mudança cultural rápida, mas empresas e governos também estão descompassadas nesse jogo do desenvolvimento”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e diretor da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Jorge Luis Nicolas Audy.

Gás na Economia debate falta de pesquisadores no Brasil

De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Paulo Alexandre Barbosa, o Estado detém 51% de toda a produção em Ciência e Tecnologia do Brasil. Mesmo assim, os pesquisadores ainda estão, em sua maior parte, na academia. Enquanto no Estados Unidos para cada três estudiosos pesquisando em empresas há um na universidade, no Brasil esses números invertem. E isso dificulta a transformação do conhecimento em bens com valores agregados.

Para Audy, o País precisa trabalhar para que esses pesquisadores reduzam o tempo da publicação de um artigo até a transformação desse artigo em algo com valor agregado para a sociedade. Ele explica que, no caso dos Parques Tecnológicos, são mais de 40 pesquisadores, das mais diferentes áreas, trabalhando em um único projeto de pesquisa.

E não basta investir só na Pós-graduação. A Educação básica brasileira ainda vive um grande retrocesso. Evidente pelos últimos resultados obtidos pelo País nas avaliações internacionais. Apesar de ter melhorado em relação às avaliações anteriores, o Brasil ainda ocupa uma das últimas colocações quando o assunto é Matemática e Ciências. “Essa dificuldade gera os gargalos na falta de mão de obra qualificada no País e a necessidade de importação de profissionais”, diz o representante da PUC-RS e da Anprotec.

Uma das soluções é a de destinar parte dos recursos obtidos com o pré-Sal para a Educação e a Ciência e Tecnologia, como defendem, por exemplo, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que pedem 10% dos royalties do petróleo para essas áreas.

Conectores – Uma das maneiras de promover a interação entre universidade-empresa é por intermédio das agências de fomento à pesquisa. Na concepção do diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), João Fernando Gomes de Oliveira, os conectores entre o setor acadêmico e as empresas são as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), como a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Essas instituições podem, explica Oliveira, até mesmo atuar como agentes de transformação da pesquisa em produto para aplicação nas empresas, e dar suporte antes e depois de o produto chegar ao mercado, apresentando as soluções mais adequadas, estudando o ciclo de vida dos produtos no ambiente etc.

Para o coordenador adjunto para Pesquisa em Inovação Tecnológica da Fapesp, Sérgio Queiróz, a interação entre universidade e empresa no País ainda é fraca. Essa ligação é fundamental para que a inovação aconteça.


 Paulo Alexandre Barbosa

Desafios - E a responsabilidade é grande. Segundo o gerente geral da Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bacia de Santos da Petrobras, José Luiz Marcusso, atualmente, são três plataformas atuantes, mas, até 2020, será feito um investimento em mais 30 plataformas. Só para o setor de petróleo e gás, o Brasil precisará de 200 mil engenheiros e tecnólogos. Para se ter uma ideia, nem todos os engenheiros formados e ainda na faculdade do País suprem a demanda.

“O País produz 2 milhões e 100 mil barris de petróleo por dia, o plano é chegar próximo a 5 milhões até 2020. Para isso, a Petrobras deve investir em grandes programas tecnológicos e em parcerias com universidades e empresas. E Santos tem como se consolidar como grande pólo tecnológico”.

Já o gerente de Relacionamento com a Comunidade de Ciência e Tecnologia da Petrobras, Luis Claudio Sousa Costa, explica que o investimento, ano passado, em universidades e centros de pesquisa foi de US$1,2 bilhão. “Uma das maiores agências de fomento à pesquisa do País”.

Apesar de ter sido descoberto em 2006, e a primeira molécula de gás ter chegado à Caraguatatuba apenas no dia 16 de setembro de 2011, o pré-Sal tomou a maior parte das atenções que antes eram voltadas para a Bacia de Campos (descoberta em 1974). “Os desafios são equivalentes aos de Campos, mas o diferencial é o histórico, que dá um conforto e os riscos tecnológicos são menores. Não vai ser tão aflitivo como foi”, afirma Costa.

Nos próximos cinco anos, segundo o gerente de relacionamento da Petrobras, deve ocorrer um “investimento agressivo” no pré-Sal de US$ 5 bilhões, sendo que 95% desse montante fica dentro do País. Mas os desafios são grandes para os pesquisadores, Costa enumera alguns: a expansão de limites (ele não acreditam que o petróleo e o gás vão desaparecer tão cedo, mesmo assim a empresa continua investindo em outras fontes de energia) e a logística.

Além disso, entre os desafios estão, ainda, a problemática da emissão e captura de gás carbônico à atmosfera, uma vez que o óleo do pré-Sal lança mais CO2 que o óleo de Campos. Também a perfuração, pois as rochas são muito duras, e investir na perfuração a laser (a atual é feita com diamante – o material mais “duro” encontrado na natureza). E melhorar o escoamento do óleo, que fica bastante “colado” à rocha.

Na opinião do superintendente de Planejamento e Pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Elias Ramos de Souza, o pré-Sal é uma oportunidade ímpar para o Brasil crescer, mas é preciso aproveitar e investir nos recursos humanos.
Para o geólogo e professor da Universidade Monte Serrat Juarez Fontana o grande desafio do pré-Sal é o que ele é um paradigma mundial - “Nós vamos ter que responder para o mundo o que o conhecimento do pré-Sal representa. Precisamos nos preocupar para que não ocorra o que aconteceu no Golfo do México”.

E os desafios ambientais também são motivo de preocupação do cientista político e social e professor da Universidade Católica de Santos, Ícaro Aranovich da Cunha. Para ele, se fazem necessários estudos permanentes de impactos ambientais, consultas e discussões entre os atores no processo de desenvolvimento.

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